quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O alface para Ogum : perseguição e discriminação no século XXI

                Mário de Andrade em seu intuito de se aprofundar na cultura brasileira lançou em 1938 a Missão de Pesquisas Folclóricas conjuntamente com o Museu do Folclore Rossini Tavares de Lima, cujo acervo se encontra atualmente no Pavilhão das Culturas Brasileiras no  Ibirapuera. Dentre as várias obras que nos chamam atenção , estão imagens de objetos quebrados e apreendidos pela polícia dos terreiros de candomblé do Norte e Nordeste do país e que materializam e imortalizam a perseguição que as regiões de matrizes africanas sofriam na época.
Passados mais de sessenta anos dessas perseguições que Mário de Andrade tão bem registrou e que demonstram a visão do senso comum em relação as religiões de matriz africana, cujo o único  contato possível se baseia na difamação, perseguição e destruição.

Atualmente, essa intolerância ao candomblé ganhou nova roupagem condizente aos dicursos mais polidos e nem por isso menos reacionários e que tem como objetivo perseguir e discriminar o que é considerado diferente.
A necessidade de classificar pessoas e práticas que não estão dentro dos padrões considerados corretos, já causou mortes, genocídios e guerras. Entretanto a necessidade humana de separação, de definição de fronteiras entre os bons e os ruins parece insaciável.
Disfarçada em uma pretensa defesa dos animais, o que percebemos nessa postura que defende a não utilização de  animais no candomblé é uma descarada perseguição as religiões de matrizes africanas, quando esses classificadores/perseguidores misturam em seu discurso enviesado proteção de animais domésticos e utilização de animais para alimentação.
É importante esclarecer primeiramente a esses desavisados que o candomblé é uma religião milenar que como várias outras oferece como forma de compartilhar e comungar, sua melhor comida aos orixás, muito parecido inclusive quando vem um visitante em nossa casa.

 Excluíndo uma família convictamente vegetariana, a comida que oferecemos aos nossos convivas muito provavelmente terá algum tipo de carne, e um breve passeio pelos bairros aos domingo, preferencialmente em dias de jogos importantes,  confirma que a carne esta fortemente arraigada na dieta das pessoas, principalmente em datas festivas.
É fundamental esclarecer que o candomblé só utiliza em seus rituais animais que se destinam a alimentação que são o frango, pata, angola e o cabrito, afinal muito parecido com a dieta que fará a alegria de tantas pessoas nesse final de ano.
É preciso que esses perseguidores do candomblé deixem claro se a luta deles é pela proteção dos animais destinados a alimentação. Porque se a defesa é para os animais destinados a alimentação, a luta dessas pessoas deveria começar pelos grandes criadores de animais de corte, abatedouros e frigoríficos além de exigir de toda a sociedade e não só dos seguidores do candomblé, que sigam uma dieta vegetariana.
Em muitas culturas, assim como no candomblé é a melhor comida que oferecemos para quem gostamos, e a melhor comida significa para uma religião milenar, a proveniente da caça. Essa é tradição que o candomblé comunga, inclusive muito similar a comida que oferecemos aos nossos melhores amigos, quando reunimos a família em datas comemorativas, inclusive religiosas. E a comida partilhada entre os entes queridos não se resume em uma dieta vegetariana, assim como não se resume a um prato de alface a comida oferecida a Ogum.


Nenhum comentário:

Postar um comentário